SEXUALIDADE DIFÍCIL NO PÓS-PARTO OU RELAÇÃO EM CRISE?

Parece que a incidência de separações é mais alta no quarto mês de vida do bebê, presumivelmente, do primeiro.
Por que quarto mês? Por que é quando a mulher não aguenta mais de cansaço. No primeiro há a revolução copernicana: o mundo de repente passa a rodar em volta do bebê. Se gastam muitos neurônios tentando entender o que acontece, quando acontece, o significado do tal choro, do tal sinal. Os horários mudam, a euforia do nascimento termina, o baby blue pode se insediar. O parceiro que ajuda também pode começar a estar cansado. O casal perdeu seu ritmo anterior.
Se a relação não tiver raízes em termos de história (tempo) e de entendimento recíproco (muitas conversas e união), o normal é que a relação precisará de ajustes.
Os ajustes vão acontecer justamente no meio do cataclisma delicioso e exaustivo dos primeiros meses de vida do nosso querido bebê. Conversar e entender-se quando se está tranquilos pode não ser simples. Conversar e entender-se quando se está exaustos, trabalhando fora de casa, não dormindo direito à noite, confusos, sentindo-se de repente com um novo cargo sobre os ombros (responsabilidade moral e econômica)... pode ser um desafio grande.
O sexo sempre tem sido a válvula de escape para "ajustar" a relação. O sexo pode ser charmoso, divertido, gostoso, satisfatório e dar a sensação de que estamos em paz com o mundo. Mas quando um bebê está no meio (metaforicamente) entre em jogo uma identidade nova. A da mulher, em primeiro lugar. Ela não pode esquecer da maternidade. Para o homem pode demorar um pouco mais antes da ficha cair... mas para a mãe, que está amamentando, tirando fraldas, acordando, velando o sono do bebêzinho, isso não foge.
Ela está virando outra, mais rápido do que possa imaginar. Ela está se transformando enquanto o furacão marca o passo de seus curtos dias. Sentimentos novos e conflitantes entram em cena. Maravilha e cansaço lado a lado. E há ele, o pai, o homem, o marido.
A relação de casal também vai mudar, inevitavelmente. E a sexualidade pode ser o lugar onde essa mudança se reflete.
Adriana Tanese Nogueira, Psicanalista, filósofa, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto. www.adrianatanesenogueira.org