PARTO E SEXO: O QUE TÊM EM COMUM

Uma vez, uma grávida veio me consultar junto a seu marido: ela queria cesárea, ele preferia parto normal. Após uma longa conversa, relaxada e sem julgamentos, a mulher revelou que o que ela queria mesmo era evitar a experiência de estar de pernas abertas diante de estranhos durante o nascimento de seu filho. Ela aceitava uma cirurgia completa, com corte e consequências, no lugar na vivencia de tal situação constrangedora.
A primeira coisa que parto e sexo têm em comum é uma vagina, vagina esta que tem sido demonizada, controlada, escondida, temida, cobiçada e roubada às mulheres por séculos. Reapropriar-se da própria vagina é o primeiro passo na direção de um parto respeitado, pois ele só será humanizado (e, portanto, respeitado) se a mulher tomar a atitude de ser dona do próprio corpo e portanto da própria vagina, como todo bom sexo e o bom parto requerem.
A segunda similitude consiste no fato de no parto ser preciso ter aquela mesma intimidade, confiança e concentração que são características de um sexo satisfatório e amoroso. Ninguém poderia ter uma relação sexual sendo observado por um público escrutinador. Por este mesmo motivo, muitas mulheres têm seu trabalho de parto travado.
O terceiro aspecto em comum entre parto e sexo é que ambos são experiências irracionais que exigem a libertação daquela mulher solta e selvagem que a educação cristã e patriarcal tem sufocado durante mais de dois milênios. Não surpreende, portanto, que, obedientes, as mulheres sigam as orientações de seus médicos e rumam para a sala operatória.
Concluindo, a mulher sexualmente livre não é aquela que atua segundo os padrões sexuais machistas, se exibindo em troca da aprovação masculino, mas aquela que é dona de seu corpo e do que sente e portanto só faz o que a fazer sentir respeitada e íntegra. Esse tipo de mulher terá uma abordagem diferente ao parto, a suas dores e prazeres. Uma parturiente em atitude mental, emocional e física ativa reverenciará sua vagina como o portal mágico entre mundos, e dela será sua sacerdotiza.
Adriana Tanese Nogueira
Psicanalista, educadora perinatal, fundadora ONG Amigas do Parto
adrianatnogueira@uol.com.br