QUERER É PODER... TEM CERTEZA?
Tempos atrás recebi uma mensagem de uma mulher grávida que pedia alguma coisa, acho que uma indicação de maternidade. Ela contou que o médico era pró-cesárea, mas que ela sabia que o parto era dela, que ela queria normal e ia ser do jeito dela...
Fiquei boba.
Por um lado: parabéns pela auto-confiança.
Por outro: é realista essa atitude?
Em primeiro lugar, existe uma diferença entre querer (com a cabeça, "Eu quero!") e fazer acontecer. Entre querer ser uma parideira e de fato sê-lo na hora h do parto. Existe aqui um abismo a separar a intenção do fato que inúmeros casos demonstram. Uma mulher dessas que acha que consegue parir só porque ela assim quer está traindo o desligamento de seu próprio corpo. É de humildade que precisa o corpo da grávida. É de receptividade graciosa e íntima que é feito o ambiente mental no qual uma grávida nos últimos meses precisa encontrar-se - para que o parto dê certo.
Que a mulher queira ter parto natural é essencial mas não suficiente. Ela precisa estar engajada de corpo e alma, não somente com a mente. Não incluir esses outros aspectos de si é não ter entendido a natureza do parto que necessita de tranquilidade, confiança, privacidade e harmonia. Poderá um médico pró-cesárea oferecer este ambiente para uma parturiente?
Em segundo lugar, não é muito arrogante descartar o médico desse jeito desconsiderando o que ele acredita e pratica? Não tem o sabor da mesma arrogância do médico que manipula a paciente para fazer o que ele quer? Para mim é o mesmo. Além de arrogante da parte da mulher, é também ingênuo. Ela não tem a menor idéia do poderia que médicos, equipes e hospitais tem. Uma Doña Quixota de saia e barrigona achando que vence o sistema pelo poder de seu querer...
A conclusão é que essa mulher está, na verdade, se sabotando.
Adriana Tanese Nogueira, Psicanalista, filósofa, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto. www.adrianatanesenogueira.org